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UN CIEL POUR MOI
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Silencio y Nubes

Marcus Vinícius

2009

Série fotográfica (15 imagens)

42 cm x 54 cm cada

Em setembro de 2008, Marcus Vinícius abriu sua segunda exposição individual, denominada "Un ciel pour moi", no Espacio Museo Galería de Arte - Tienda MACLA, em La Plata, cidade argentina na qual havia passado a residir meses antes. Nessa exposição, ele apresentou três trabalhos: o registro em vídeo da performance "Escalera", a videoarte "Un ciel pour moi" e dez imagens da série fotográfica "Silencio y Nubes", mostrando diferentes nuvens que sobrevoam diferentes cidades com os seus múltiplos tons de branco e cinzento, e que juntas se complementam, alimentando-se, formando um todo global. Apresentamos aqui a íntegra dessa série fotográfica, e dois textos críticos produzidos na época da exposição.

Un ciel pour moi

Marcus Vinícius

2009

Vídeo

La Plata, Agosto de 2008.

Sinopse:

Ruídos. A cidade e o céu. Lá no alto, passam as nuvens. Nuvens sem contornos nem limites. Lá se vão formas densas que se expandem sem parar na imensidão do céu azul. Voam nas maiores alturas, nuvens de grande leveza. O vento insiste em espalhá-las... vagarosamente. Dissolvem-se em pedaços brancos, depois em tons de cinza cambiantes, enquanto o sol se transforma ao suspender-se para dar lugar à noite. Um desvio para os olhos, elas não param. Continuam a voar... para mim.

Escalera

2009

Registro em vídeo de performance

Artista: Marcus Vinícius

Vídeo: Nelda Ramos

Centro Cultural España-Córdoba

Córdoba, Agosto de 2008.

Sinopse:

Nesta ação a escada que vai até o topo é sempre abaixada. É a descida que fica preservada nas memórias, a descida que caracteriza o significado onírico da ação. A escada que leva ao topo sobe e desce. É uma maneira trivial. É familiar. A escada da vida, mais íngreme, mais estreita, mais áspera, é sempre escalada. Tem o sinal da ascensão à solidão mais tranquila. Quando sonho com o passado, nunca desço. Através dessa barreira o sonhador é extraído das profundezas da terra e entra nas aventuras do alto.

 

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Céu

por J.W.Kielwagen

 

Sobre o último degrau de uma escada dupla, montada ao ar livre em uma calçada de Buenos Aires, o artista imóvel olha para o céu. Assim permanece por alguns minutos, e quando desce, sobe novamente pelo outro lado e se coloca na mesma posição. O que ele procura lá em cima? Não sabendo, somos tentados a fazer o mesmo; se alguém pára e olha para o céu, logo outros se juntam a ele, e enfim uma pequena multidão se põe de olho nas alturas em busca do que viu o primeiro. Não se trata de uma busca pelo extraordinário – anjos, discos voadores, ou um segundo sol, oculto atrás do primeiro – mas de uma injeção de poesia no que há de mais prosaico, e que acompanha o homem desde sua gênese: a imensa e delicada película terrestre que captura a transpiração do mundo.

 

“Gosto das nuvens… das nuvens que passam… lá longe… das maravilhosas nuvens!”, escreveu Baudelaire em O Estrangeiro. Que há de tão atraente em nuvens? Ele não responde, mas seja o que for, deve ser importante; o homem enigmático do poema rejeita família, amigos, pátria, beleza e ouro, tudo em favor do efêmero e do inalcançável. Para transcender as coisas desse mundo, olha para o céu e encontra nas nuvens uma metáfora para a transitoriedade terrena: nós também estamos mudando de forma, nossa solidez é apenas aparente, e não demora para que nos desfaçamos em nossos componentes mais simples e retornemos à terra. 

 

Injustamente malditas, nuvens são a poesia democrática da natureza, acessível a qualquer um disposto a erguer o olhar. Sem elas, o azul do céu seria monótono, e seu vazio, um tanto perturbador; no firmamento configuram humores atmosféricos que podem ser lidos como semblantes; sua beleza subestimada é percebida apenas pelos sonhadores. Ponto ótimo da circularidade dos estados da matéria, tal algodão é uma promessa de umidade; prenuncia o sêmen celeste, que jorra sobre todos nós - para fecundar tanto o negrume da terra quanto os abismos insondáveis da alma...

 

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Encontros

por Barbara Rodrigues


 

“Encontrar é achar, é capturar, é roubar, mas não há método para achar, só uma longa
preparação. Roubar é o contrário de plagiar, copiar, imitar ou fazer como. A ca
ptura é sempre uma dupla-captura, o roubo, um duplo-roubo, e é isto o que faz não algo mútuo, mas um bloco assimétrico, uma evolução a-paralela, núpcias sempre ‘fora’ e ‘entre’ ”.

Gilles Deleuze e Claire Parnet

Dialogues, 1977.


 

Quase todos nós temos interesse por aquilo que não é nosso, por aquilo que não somos, pelo que não possuímos, pelo que não podemos tocar, e muitas vezes pelo que não podemos apreender por completo... Pretendemos, aspiramos, construímos todo dia nossa Torre de Babel ansiando tornar nosso o céu inflado. 

 

E assim começa a captura. Marcus Vinicius nos apresenta aqui o resultado de sua longa caçada.  Despretensioso olhar domingueiro, que ao mirar alto para o céu avista a presa. Observa seus movimentos, as mais lentas e faceiras são suas favoritas, as namora e então as captura.  Mas nuvens não podem ser capturadas se não apenas como olhar ou com o que dele depende, logo fogem, disfarçam-se, somem assim, sem muito aviso. Casam-se umas com as outras num piscar de olhos e logo se multiplicam. As pequenas querem ser grandes, e as grandes maiores ainda, anunciam tempestades e assim nos afastam, muitos de nós, os caçadores, nos escondemos, enquanto elas saem por aí voando, fazendo-nos acompanhá-las com o olhar.

 

Marcus seqüestra momentos de suas nuvens, mas frustradamente não as toca. Sobe e desce de uma escada repetidamente e se consegue ter algo em suas mãos por alguns rápidos segundos, é poeira desprendida de suas cobiçadas e suspensas nuvens. 

 

O trabalho de Marcus se guarda entre a paisagem e o desejo humano, administra-o enquanto experiência e vivência. Mergulha num flerte constante com um outro imperativo que parece posar para sua câmera, permitindo-lhe fotografar suas sobreposições, distâncias e encantamentos  - mas, ainda assim, ambos se mantém em distância segura. Afirmam-se, e assim se somam. 

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