CICATRIZES
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Marcus Vinícius
2010
São Luis, Brasil
Série Fotográfica Digital
50 x 70 cm (fotos horizontais)
70 x 50 cm (fotos verticais)
Imagens: Ghustavo Távora
Minhas cicatrizes são como linhas que revelam lugares em contornos imprecisos, como se a memória pudesse ser impressa na pele de quem a leva. São desenhos que a vida vai fazendo: alguns se desvanecem, outros se mantém iguais.
Minhas cicatrizes são como casas abandonadas que, cegas e mudas, são agora corpos desfigurados. Guardam silenciosas algo que já nao existe, exceto naquelas lembranças que ficaram impressas nas desconstruções.
A cidade é meu estudo, meu lugar de ação e lugar de reflexão no qual meu corpo atua como objeto de registro e memória. Muito além de uma ferramenta de trabalho, seus desdobramentos avançam em imagens multiplicadas, registros temporários de uma ação infinita, de caráter mais filosófico que físico, resultado de minha condição flâneur.
Talvez seja a arte da fantasmagoria, da construção a partir da imaterialidade das coisas por meio da materialidade do desejo, conforme Agamben (2007). A poética posta em cena é a da reconstrução da imagem de um corpo perdido, da identidade borrada, da memória obscurecida. O espaço e a transitoriedade expandidos no corpo.
Em minhas incursões através dos labirintos da cidade, casas singulares, que apresentam transposições de significados em comum, isoladas de suas funções, tornam-se corpos desprovidos de vida, pontuando relações entre o escuro do lado de dentro e o invisível do lado de fora.
O reverso do corpo é revelado por alguma fresta que deixa entrever a poeira da alma, os vestígios e as memórias de quem ali um dia habitou. Somos olhados por esse passado e por essa perda e somos remetidos as palavras de Didi-Huberman (1998): “devemos fechar os olhos para ver quando o ato de ver nos remete, nos abre a um vazio que nos olha, nos concerne e, em certo sentido, nos constitui”.
Referências
AGAMBEN, Giorgio. Estâncias: a palavra e o fantasma na cultura ocidental. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007.
DIDI-HUBERMAN, Georges. O que vemos, o que nos olha. São Paulo: Editora 34, 1998.