Abertura da exposição Marcus Vinícius e performance Tributo Feat. Acaso (Shima)
2016
Galera de Arte Espaço Universitário (GAEU-UFES)
Curadoria: Júlio Martins, Rubiane Maia e Shima
Registros fotográficos por Neusa Mendes
BIOGRAFIA
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Marcus Vinícius (Vitória, 1985 – Istambul, 2012) foi um artista visual brasileiro que viveu e trabalhou no mundo, e um dos mais importantes nomes da geração de performers surgida no Brasil na primeira década do século XXI.
Cresceu na ilha de Vitória e estudou Artes Visuais da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). A primeira fase de sua produção artística concentrou-se no campo da intervenção urbana, tendo sido integrante do Coletivo Entretantos, com o qual realizou duas edições do MultipliCIDADE, encontro brasileiro de arte urbana que teve duas edições realizadas em Vitória, em 2005 e 2006. Em 2008, radicou-se em Buenos Aires, onde cursou o doutorado em Arte Contemporânea da América Latina na Universidad Nacional de La Plata (UNLP), tendo falecido pouco antes da conclusão do curso.
A partir de 2007, passou a fazer do corpo o principal objeto e meio de sua arte, criando trabalhos em vídeo, fotografia, instalação, desenho e, principalmente, performance. Durante cinco intensos anos de produção solo, ele passou a explorar os limites físicos e mentais do seu ser, resistindo à dor, à exaustão, ao silêncio e ao perigo na busca pela transformação emocional e espiritual em trabalhos duracionais. Em seus rituais silenciosos, lentos e de gestos mínimos, muitas vezes enraizados na experiência cotidiana, ele explorava diversas dicotomias: ação/inatividade, movimento/imobilidade, presença/ausência, leveza/risco.
Marcus Vinícius apresentou trabalhos internacionalmente em galerias, projetos e festivais de 22 países: Brasil, Reino Unido, Argentina, Colômbia, México, Bolívia, Estados Unidos, Polônia, Portugal, Espanha, Itália, Rússia, Finlândia, Suécia, Estônia, Letônia, Noruega, França, Peru, Palestina, Filipinas e Mongólia, onde realizou seu último trabalho presencial, em 2012, dentro da 2nd Land Art Biennial LAM 360°. Ministrou cursos na Facultad de Artes ASAB (Colômbia), na Facultad de Artes Visuales – UANL (México) e na Academia Non Grata (Estônia). Em 2011, tornou-se professor visitante de Performance Art na Svefi - Sverigefinska folkhögskolan , na Suécia.
Ele também publicou ensaios especializados em arte contemporânea para publicações locais e internacionais como “Escáner Cultural” (Chile), “Ramona | Revista de artes visuais” (Argentina) e as brasileiras “Reticências... crítica de arte” e “Tatuí”. Em 2009 foi premiado com bolsa para jovens artistas do ECuNHi - Espacio Cultural Nuestros Hijos (1ª edição), da Fundación Madres de Plaza de Mayo, e do FNA - Fondo Nacional de las Artes, na Argentina.
Também atuou como curador independente no campo da performance, tendo sido o coordenador do LAP! _Laboratório de Ação e Performance e, ao lado dos artistas Rubiane Maia e Shima, realizou o projeto Trampolim_ Plataforma de encontro com a arte da performance (2011-2012), um festival itinerante de performance que percorreu cidades no Brasil e na Colômbia, reunindo artistas de diversas nacionalidades. Em 2010, foi curador internacional convidado do Festival Internacional de Arte Acción ZONADEARTENACCIÓN '10 , em Buenos Aires e, em 2011, foi membro da comissão organizadora do V::E::R – Encontro de Arte Viva, em Terra UNA, Brasil.
Após o falecimento precoce de Marcus, sua família doou seu acervo de obras e textos para a Galeria de Arte Espaço Universitário (GAEU-UFES), localizada em Vitória, sua cidade-natal. Em 2016, para celebrar a memória do artista, foi realizada, nessa galeria, a retrospectiva “Marcus Vinícius”, bem como o lançamento do livro “Marcus Vinícius – A presença do mundo em mim”, e que cobre sua produção nas áreas de performance, fotografia e vídeo. Marcus também é um dos três artistas protagonistas do documentário em longa-metragem “Presença” (2024), centrado na relação entre a performance e os questionamentos do limite do próprio corpo.
Um portifólio online organizado em 2012 por Marcus Vinícius, cobrindo algum de seus trabalhos mais relevantes, está disponível neste link: https://cargocollective.com/marcusvinicius
Na mesma plataforma, há um portifólio de trabalhos curatoriais e textos críticos assinados por Marcus, disponível neste link: https://cargocollective.com/curatorialandcritical
Uma compilação de textos críticos publicados por Marcus Vinícius na revista chilena Escáner Cultural pode ser conferida neste link: https://revista.escaner.cl/node/6501
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The presence of the world in me (part 2)
A presença do mundo em mim (parte 2)
2011
Performance (37 minutos)
Artista: Marcus Vinícius
Vídeo: Non Grata Group Diverse Universe Performance Festival Platform Stolckholm, Stockholm, Suécia
STATEMENT
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“Meus trabalhos partem da observação e interpretação do espaço que me rodeia, enfrentando os embates éticos e estéticos de pensar esses espaços e as narrativas de intimidade. Defender o silêncio, o poético e a invisibilidade. Após esta aproximação aos lugares, intervenho com/no meu corpo em performances que estabelecem um dialogo entre o real e o imaginado. Inclina-se desta maneira pelo vivencial, as experiências próprias dos lugares habitados dia a dia. Quero estar conectado e explorar a relação entre o Eu e seu entorno num mundo dilacerado pelas transformações urbanas e midiáticas, criando ações que manifestam transitoriedade e instabilidade. Tentativas de fazer um mundo para sobreviver... e viver minhas obsessões. Entender o cotidiano não só como espaço de sociabilidade, mas como paisagem. Uma busca de transcendência dos meus limites e de conexão com a totalidade, com a natureza idealizada, com o meu universo simbólico. Meus trabalhos traçam um mapa psíquico pessoal que expressa quem eu sou. Contudo, não são apenas sobre mim nem para mim. São profundamente tanto pessoais como arquetípicos. Tratam do escuro desejo que se desconhece. É uma busca de uma poética do cotidiano que vislumbra no limiar o excepcional, a transfiguração, o sublime, mas sei que estes são apenas instantes que ficam guardados em desenhos, instalações, fotografias e vídeos. Por ter vivido momentos limite de tanta intensidade, esse homem, personagem, ser, segue caminhando, não se consome; e por mais que caminhe, olhe, viva, sofra, é um homem comum. Afinal, tudo é tão simples…
e, de uma forma ou outra, é autobiográfico”
Marcus Vinícius
Buenos Aires, janeiro de 2012.