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ESTRATÉGIAS DO CORPO.PNG


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ESTRATEGIAS DEL CUERPO

@estrategiasdelcuerpo

Body’s Estrategies 2010-2007

Estratégias do corpo

2010

Canal de Youtube / DVD /

Portifólio artístico /

Proposta de exposição individual

Artista: Marcus Vinícius

ESTRATEGIAS DEL CUERPO
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Em janeiro de 2010, Marcus Vinícius cria o canal de YouTube @estrategiasdelcuerpo (https://www.youtube.com/@estrategiasdelcuerpo), no qual passou a postar os vídeos de seus trabalhos – tanto registros de performances presenciais, individuais ou colaborativas, quanto trabalhos nos campos da videoarte e da videoperformance. Atualmente, ele conta com 45 vídeos, postados até o falecimento do artista, em 2012, totalizando 20 mil inscritos e mais de 14 milhões de acessos (contabilizados em março de 2024).

“Estratégias do corpo” também é o nome do portfólio artístico organizado pelo artista no final de 2010, retratando sete de seus trabalhos,  sintetizando o cerne de sua produção até então, que pensava a centralidade do corpo e as diversas transposições de seus limites através da performance, do vídeo e da fotografia, focando nas investigações que o artista empreendia acerca do corpo na esfera cotidiana. Esse portifólio também serviu como uma proposta de exposição individual, até hoje não-realizada, submetida a alguns editais de espaços culturais brasileiros.

Na mesma época, Marcus lançou o DVD “Body’s Estrategies 2010-2007”, em tiragem limitada, reunindo o conjunto de seus trabalhos em vídeo realizados até o final do ano de 2010.

Compartilhamos aquí o portifólio artístico “Estratégias do corpo” (clique aqui), e o texto de apresentação, escrito pelo artista, curador e professor argentino Marcelo Pelissier em 2010. A título de comparação, também transcrevemos aqui o texto “Ritos de iniciação”, do mesmo autor, datado de novembro de 2009 – possivelmente, uma versão preliminar do texto de 2010.

 

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Estratégias do corpo

por Marcelo Pelissier

 

Propor uma poética do cotidiano para a contemporaneidade, quando este é dilacerado pelas transformações urbanas e midiáticas, implica enfrentar o embate ético e estético de pensar os espaços e as narrativas da intimidade. Defender o silêncio, a sutileza e a invisibilidade. Para além das tensões entre o público e o privado, da rua e da casa, Marcus Vinícius nutre o interesse em compreender o cotidiano não só como espaço de sociabilidade, mas como paisagem; ao contrário dos espaços marcados pela impessoalidade.

Pensar uma poética do cotidiano, centrada na sutileza e na delicadeza, é propor outra forma de encenar a realidade. É certa aposta, ingênua que seja, de olhar para as pequenas coisas. Desde 2007, o foco de sua produção artística é o seu próprio corpo como território para a experimentação contínua, explorando temporalidade, contingência, instabilidade e limites em performances e intervenções urbanas, estendendo também ao vídeo e a fotografia. O artista procura (re)significar as práticas cotidianas, o olhar e os caminhos inscritos na e pela cidade, num processo chamado “Estratégias do corpo”. Nele, o seu próprio corpo tem sido o sujeito e o meio. Explorando os seus limites físicos e mentais, o artista tem resistido à dor, ao cansaço e ao perigo na busca do seu interior, resíduos do corpo, do espaço e do tempo. Tentativas, caminhos e passagens. Práticas de deriva e diálogos silenciosos com o público. Estratégias que transitam por diferentes espaços, cidades, territórios, ilhas e arquipélagos desde uma subjetividade que encarna a vida e outorga corpo e sentido à realidade mais pura (ou a mais cruel). Suas estratégias operam como um pequeno dispositivo que desperta a sensibilidade a partir do mais íntimo, do pequeno gesto, utilizando recursos materiais simples e cotidianos, criando encontros casuais e de furtiva possibilidade de uma aventura poética. 

As obras aqui reunidas mostram uma busca de transcendência dos limites do eu e de conexão com a totalidade, com a natureza idealizada, com o seu universo simbólico. O contato com a terra, a água e o fogo estão presentes nas séries “Contato” e “Território expandido”. E talvez onde mais claramente se revele a necessidade de integração com a natureza, de retorno à origem, é nos trabalhos que Marcus Vinícius desenvolve no âmbito urbano. As performances “Cuerpo estraño”, “Ocupação urbana experimental” ou “Frágil”, mostram uma incongruência, uma impossibilidade de integrar esse corpo com o cimento, com a cidade; ali, sempre aparece como vulnerável, deslocado, como reclamando algo que se perdeu para sempre. 

Mas Marcus Vinícius segue na sua busca de uma poética do cotidiano, que vislumbra no limiar o excepcional, a transfiguração, o sublime, mas sabe que esses são apenas momentos e é bom que assim seja. Tendo vivido momentos de tanta intensidade, esse homem, personagem, continua, caminha, não se consome rapidamente, e por mais que ande, veja, viva, sofra, há de ser um homem comum. Afinal, tudo é tão simples…

El iluminado

2009

Performance/ Fotografia

40 cm x 60 cm

Artista: Marcus Vinícius

Registro fotográfico: Verónica Meloni

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Ritos de iniciação

por Marcelo Pelissier

 

Olhando algumas obras de Marcus Vinícius pode-se pensar que há nelas – e portanto no artista – uma dose de masoquismo. É preciso percorrer todo o seu trabalho para começar a duvidar dessa primeira impressão. Feito esse percurso, sente-se outra coisa, desenha-se outra certeza: seu trabalho é um rito de iniciação. Longe do acionismo vienense, aquele movimento do pós-guerra onde o corpo era atormentado, mutilado em sinal de protesto, Marcus coloca seu corpo, expõe seu corpo a situações muitas vezes perigosas, como quando bebe substâncias às quais ele é alérgico, ou prepara infusões com plantas cujos efeitos são previamente desconhecidos – mas  essas ações estão mais próximas do ritual xamânico do que da autoflagelação ou do protesto. O xamã busca um estado de consciência alterado e alternativo, que lhe permita transcender os limites do eu e se conectar com a totalidade, com seu universo simbólico. Essa busca pelo contato com o todo, com a natureza – uma natureza idealizada – está sempre presente na obra de Marcus Vinícius, seja ela uma performance ou um registro fotográfico. O contato com a terra, com a água, com o fogo, como nas séries “Contato” ou “Território expandido”, é reiterado. E talvez onde mais claramente se revele a necessidade de integração com a natureza, de retorno à origem, é nos trabalhos que Marcus Vinícius desenvolve no âmbito urbano. As performances “Cuerpo extraño”, “Ocupação urbana experimental” e “Frágil”, mostram uma incongruência, uma impossibilidade de integrar esse corpo com o cimento, com a cidade; ali, sempre aparece como vulnerável, deslocado, como reclamando algo que se perdeu para sempre.  Por fim, as alusões aos santos mártires (“San Sebastian”), a contemplação (série fotográfica “Espaços de contemplação”), a elevação (“Escalera”, “O iluminado”, “Leve”), juntamente com suas outras obras, formam um sincretismo que acaba delineando o significado de sua trabalhar. A obra de Marcus Vinicius é uma mística, um rito de iniciação, uma provação em busca de sentido.

Espacio de Contemplación IV, por Valeria Coitaimich.JPG

Espaco de contemplação IV

2009

Performance/ Fotografia

40 cm x 60 cm

Artista: Marcus Vinícius

Registro fotográfico: Valeria Cotaimich

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